Neste dia 14 de julho, muitos brasileiros lembram das comemorações que ocorrem na França, em razão dos 230 anos da Queda Bastilha. Porem, nós do Acre temos que ter vivo na memória, a façanha do espanhol Luis Galvez. Que erroneamente é conhecido por Imperador do Acre, mas nunca foi monarca e sim um republicano.
Movidos pelo poderio econômico do primeiro ciclo da Borracha em 1877, a região começa a ser ocupada por trabalhadores vindos de forma semi-escravas para compor os primeiros seringais. Tão somente em 1899, o espanhol Luis Galvez Rodríguez de Arias, tinha a ideia de formar um país no meio da floresta. O país que existiu nos barrancos do rio Acre tinha treze mil habitantes.
Galvez estudou ciências jurídicas e sociais na Universidade de Sevilha e depois trabalhou no serviço diplomático espanhol em Roma e Buenos Aires. Migrou para a América do Sul para procurar o Eldorado da Amazônia, em 1897. Em Belém do Pará foi jornalista no Correio do Pará. Em Manaus, escreveu para o jornal Comércio do Amazonas.
Logo depois do governo boliviano celebrar um acordo de comércio e exportação de borracha, através de um Contrato de Arrendamento com um sindicato de capitalistas estrangeiros, o Bolivian Syndicate, presidido pelo filho do então presidente dos Estados Unidos, Galvez recebe um cópia do documento para ser traduzido para o inglês, como funcionário do Consulado boliviano em Belém.
Leva então o assunto ao conhecimento do governador do Amazonas, Ramalho Júnior e revela seu intento de promover a independência do Acre. O governador apoia a ideia clandestinamente, fornecendo recursos financeiros, armas, munições, provisões, um navio especialmente fretado e equipado com um canhão e uma guarnição de vinte homens.
Lidera então uma rebelião no Acre, com seringueiros e veteranos da guerra de Cuba, no dia 14 de julho de 1899, propositadamente a data do aniversário de cento e dez anos da Queda da Bastilha.
Fundou a República Independente do Acre, justificando que “não podendo ser brasileiros, os seringueiros acreanos não aceitavam tornar-se bolivianos”.
Chamado Imperador do Acre, assumiu o cargo provisório de presidente, instituiu as Armas da República, a atual bandeira, organizou ministérios, criou escolas, hospitais, um exército, corpo de bombeiros, exerceu funções de juiz, emitiu selos postais e idealizou um país moderno para aquela época, com preocupações sociais, de meio ambiente e urbanísticas. Também baixou decretos e envia despachos a todos os países da Europa, além de designar representantes diplomáticos.
Galvez chegou a proibir os casamentos com jovens menores de dezesseis anos, algo costumeiro numa região onde a presença feminina era tratada como produto raro. Ele organiza os Correios e, encomenda à Casa Impressora Monkes, de Buenos Aires, a confecção de diversos selos com valores diferentes. Os selos foram impressos em folhas de 50 exemplares e enviados para o Acre, via Manaus.
Um golpe de estado em seu governo com apenas seis meses de existência o retirou do cargo, sendo substituído pelo seringalista cearense Antônio de Sousa Braga, que um mês depois devolveu o poder a Galvez.
A devolução
O Tratado de Ayacucho, assinado em 1867 entre o Brasil e a Bolívia reconhecia o Acre como possessão boliviana. Por isso, o Brasil despachou uma expedição militar composta por quatro navios de guerra e um outro conduzindo tropas de infantaria para prender Luis Galvez, destituir a República do Acre e devolver a região aos domínios da Bolívia.
No dia 11 de março de 1900, Luis Galvez rendeu-se à força-tarefa da marinha de guerra do Brasil, na sede do seringal Caquetá, região do município de Porto Acre, às margens do rio Acre, para depois ser exilado em Recife, Pernambuco. Mais tarde foi deportado para a Europa.
Galvez ainda retornou ao Brasil, anos depois, mas o governo do Amazonas o prendeu e o encaminhou para o Forte de São Joaquim do Rio Branco, hoje estado de Roraima, de onde fugiria tempos depois. Morreu na Espanha.
Sessão Solene – Selo Comemorativo
A Assembleia Legislativa do Estado do Acre (ALEAC) realizou nesta semana, uma Sessão Solene em homenagem aos 120 anos de fundação do Estado Independente do Acre por Luis Gálvez de Arias, e ao relançamento e obliteração do Selo Comemorativo de alusão aos 120 anos de fundação do Estado Independente.
O ativista político, Abraim Farhat (Lhé), participou da sessão e falou da importância da criação do Selo Comemorativo em alusão aos 120 anos de fundação do Estado Independente. “Quem não conhece sua história é uma mula sem cabeça, por isso é tão importante fazermos hoje esse resgate. Temos tanta sorte que os correios vão batizar o selo de “Gálvez 120 anos”, isso é maravilhoso. Uma homenagem a esse espanhol “quixote” que foi tão importante para nós acreanos”, salientou.