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O Brasil pode viver o caos chileno


Por Cesário Campelo Braga

Em menos de dois anos, o Brasil pode vive um caos social dez vezes maior que o Chile caso o governo Bolsonaro (PSL) insista na receita liberal de cortar os investimentos em educação e saúde, com a continuidade da PEC do Teto, mantenha o contingenciando dos recursos para as instituições de ensino superior e pesquisas, sancione a nefasta reforma da previdência social e suas possíveis PEC’s paralelas e continue com o processo de privatizações de importantes estatais brasileiras.

A situação no Chile é caótica, já foram 18 mortes e mais de quinhentos feridos durante as manifestações, que tiveram como estopim o aumento da passagem de metrô, mas que entretanto, possui raízes mais profundas, pois revelam um país marcado por desigualdades sociais, constituídas a partir de decisões equivocadas dos governos liberais.

Decisões essas que que recaíram sobre áreas estratégicas, como previdência social, saúde e educação e que, por coincidência ou não, é o mesmo pacote de decisões que estão sendo tomadas no Brasil desde o governo Temer e que foram coroadas na última terça-feira, 22, com a aprovação da Reforma Da Previdência Social do governo Bolsonaro.

O Chile está entre os países com maior índice de crescimento, na América do Sul, nos últimos anos. Seu Produto Interno Bruto (PIB), em 2019, deve ter um crescimento de 2,9%, bem acima da expectativa brasileira que não deverá chegar a 1%. Porém, crescimento do PIB sem distribuição de renda, sem investimentos em áreas estratégicas, como seguridade social, saúde e educação não é Crescimento Econômico.

Segundo declaração do professor de administração e contabilidade da USP, Paulo Feldman, ”o maior problema do Chile é a péssima distribuição de renda”. Lá, o 1% mais rico ganha mais de 25% de toda a renda do país, situação idêntica à que vivemos no Brasil – segundo estudo do IBGE de 2019, os 10% mais ricos concentram 43,1% de toda a renda brasileira, desigualdade que se amplia desde 2016.

Outro grande problema do Chile, cujo o Brasil tem seguido a receita para o insucesso é uma previdência que não leva em consideração a classe trabalhadora. O sistema chileno, segundo Andras Uthoff, consultor do Instituto Igualdad e professor da Universidade do Chile, fez com que 80% das aposentadorias pagas estejam abaixo do salário mínimo e 44% abaixo da linha da pobreza.

O modelo Brasileiro proposto por Bolsonaro e aprovado na última terça, tira direitos de mais de cem milhões que estão no mercado de trabalho formal ou informal, ou já são aposentados e pensionistas, dificulta o acesso ao benefício integral por tempo de seviço e quase que inviabiliza a aposentadoria publica, além de que, o ministro da economia Paulo Guedes, não descarta a possibilidade do governo apresentar uma PEC paralela para que o congresso reaprecie o tema da capitalização.

Outros agravantes no Chile é o fato de não existir uma rede pública de saúde e a educação superior ser toda privada, caminho que o governo Brasileiro também dá sinais claros que pretende trilhar. Somou-se a isso no Chile o custo de vida altíssimo enfrentado pela população, que sofreu com o aumento de 150% no preço dos alugueis e a elevação da tarifa do metrô, a gota d’água que levou os manifestantes às ruas do país.

Já no Brasil a situação é até mais grave e não faltam estopins para vivermos uma convulsão social: o preço do combustível sobe de forma abusiva, sem qualquer controle do governo que quer privatizar tudo; o gás de cozinha já chegou na casa dos 100 reais, em alguns municípios; a conta de energia aumenta ao bel prazer das concessionárias. Tivemos uma alta no preço dos alimentos e, consequente, a perda do poder de compra dos que estão trabalhando, além, é claro, de um exército de desempregados, filhos da recessão econômica, do fim dos investimentos públicos, das reformas trabalhistas, da desaceleração da economia… enfim, das decisões liberais dos últimos três anos.

Lamento dizer, mas, caso medidas não sejam tomadas para que haja diminuição das desigualdades, ampliação do emprego e devolução do poder de compra dos trabalhadores, vai se instaurar no Brasil uma situação econômica e social muito mais grave do que a que vemos no Chile. A situação do Chile deve servir de lição, ou mudamos o modelo ou povo brasileiro irá padecer.

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