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O Arquivo do Façanha traz histórias do Maracutaia, um celeiro de craques e cidadania na década de 1980

POR MANOEL FAÇANHA

O Brasil ainda vivia seus últimos anos de ditadura militar, quando no então bairro periférico da Estação Experimental, na capital Rio Branco, surgia o campinho de terra batida batizado pelos seus atores de Maracutaia.

Pois bem, o dito campinho era localizado a menos de 50 metros da residência dos meus pais, isso quando eu estava prestes a completar meus 10 anos de idade.


E para contar um pouquinho da história do Maracutaia, primeiramente, precisamos contar que, ao lado dele, existia a quadra da Fundação do Bem Estar Social do Acre (Funbesa), essa inaugurada em 1977 com a fita inaugural cortada pelas mãos do lendário Garrincha, fato esse que assisti em cima de uma bancada da pequena varanda da minha então residência.


Retornando à história do campinho do Maracutaia, lembro-me que ele surgiu da necessidade de mais um espaço físico para a prática esportiva, principalmente da garotada, apesar da administração do espaço de propriedade estatal relutar para que o local não fosse transformado no campo de futebol.

Mas prevaleceu a vontade dos moradores e o campinho passou a ser uma realidade. Os responsáveis da sua criação adoravam futebol e eram senhores, adolescentes e crianças.

Um desses personagens era o Sr. Osmar Correia. Um retirante cearense e pequeno proprietário de uma padaria que um dia, inclusive, chegou a ser um dos acertadores num teste de Loteria Esportiva, isso na década de 1970.

Foi ele que criou o time mirim do São Paulo, minha primeira equipe futebolística. O time ainda era composto pelos seus três filhos: Pelé, Nem, Tuquinha, entre outros.

E a paixão do Sr. Osmar e de outros abnegados pelo futebol do bairro da Estação Experimental, como Sr. Dário (Santa Cruz) e o Cosmo (Flamenguinho), foi suficiente para criarem inúmeras competições esportivas no Maracutaia, primeiramente nas categorias de base.

A empolgação era tanta que o Sr. Osmar passou a narrar os jogos de uma cabine improvisada no tronco de uma seringueira, com o som sendo transmitido por um alto-falante instalado acima da cabine. Foi lá dessa cabine que o cronista esportivo Roberto Vaz teve sua primeira experiência como narrador.

Com a chegada do saudoso professor Nino, então atacante do Juventus, no início dos anos 1980, para coordenar o desporto da Funbesa, as competições ganharam força. Santa Cruz e Flamenguinho, São Paulo e dezenas de equipes dos bairros adjacentes passaram a disputar competições animadas num dos principais celeiros de atletas da base do futebol acreano.

Lembro-me que certa vez, a regra para se jogar a competição dizia que o atleta deveria ter estatura de, no máximo, 1m60 (existia até mesmo uma vara para medir os atletas). O regulamento deixava brecha sobre idade e o que houve foram inúmeros baixinhos veteranos em campo. Magide, Leco, Tancredo e Afrânio, entre outros, isso sem falar de um goleiro de 38 anos, à época, motorista de ônibus.

Bem antes da metade dos anos de 1980, surgiu então a ideia da criação do “Peladão da Funbesa”, competição organizada pelo professor José Aparecido Pereira dos Santos (Nino) e sua equipe, que era formada pelos professores Mustafa Anute, José Alício e Sônia Ferreira, entre outros.

A competição virou febre e reunia a cada ano cerca de 40 equipes ou mais de diversos bairros da capital Rio Branco, mas viria a desaparecer nos primeiros anos de 1990. No entanto, digno de registro é a qualidade técnica da maioria das equipes, muitas delas recheadas de jogadores dos grandes clubes acreanos como: Antônio Júlio, Zito, Sabino, Carioca, César Limão, Delcir, Vidal, Oton Sales, Fran, Paulinho Rosas, Nelson Sales, Ilzomar Pontes, Ely, Mariceudo, Antônio da Loteca, Neco, Klowsbey, Maurício Generoso, Waltinho, Zé Gilberto, Léo Rosas, Rozier, Nei Cordeiro, entre outros.

Os jornalistas Raimundo Fernandes e Roberto Vaz, na época, chegaram a destinar grande espaços nos seus veículos de imprensa aos torneios ocorridos na Funbesa.

Nesta competição tive o prazer de jogar em quatro equipes: Monarck (1987), Funbesa (1989), Escola Lindaura Leitão (1988) e Araújo (1990), mas o máximo onde cheguei foi à disputa de uma quarta-de-final com a camisa do time colegial. Naquela partida, perdemos para o Mercantil Araújo, de César Limão & Cia, por 2 a 1. E pelo time da escola cheguei a figurar entre os artilheiros, inclusive, à época, fui fotografado por Francisco Chagas, então fotógrafo do jornal O Rio Branco.

Paralelamente à competição adulta, ocorria o campeonato infantil. Santa Cruz, São Paulo, Flamenguinho e Funabem/Mascarenhas estavam entre as principais equipes, logo após surgindo o Volta Redonda (1983) e o Vasquinho da Estação (1984), dois clubes que atuei na minha infância. No primeiro, o qual o empresário Adem Araújo também fazia parte, ficamos na terceira posição, após perdermos a vaga no tapetão ao protagonizar uma das maiores zebras do torneio, ao eliminar nas semifinais o Santa Cruz, de César Limão, o Pelé de minha infância, & Cia.

No entanto, havia um jogador com idade acima do permitido pelo regulamento e fomos eliminados. No segundo, agora jogando ao lado de vários jogadores feras como Mui, César Limão, Renísio, Pastor Carlos, Augusto, Gil, Nabor Sales, Jonas e outros, eu e o meu irmão Fernando (Grande) e o meu vizinho Reginaldo Moreira, fizemos parte do time campeão que venceu na decisão extra o Mascarenhas/Funabem, uma equipe de muita qualidade, liderada pelo Rei Artur. Lembro-me ainda que o professor Mustafa Anute foi meu treinador nas duas equipes.

Um ano depois, o Vasquinho, com o assassinato do presidente José Gomes de Freitas, o Zequinha, ocorrido no último dia do ano de 1984, desapareceu e então fui convidado a jogar na Funabem, mas era uma outra equipe, pois grande parte dos atletas tinham estourado a idade. Fomos campeões contra o São Cristóvão/Floresta, equipe do desportista Paulão, numa disputa pela taça nas cobranças de penalidades. Ary, Timbal, Zé Carlos, eu, Kiko, Cabecinha e Beto fazíamos parte do elenco campeão.

Então era isso, o “Arquivo do Façanha” trouxe um pouquinho da história do campinho de peladas do Maracutaia (esse fazendo parte do complexo esportivo José Gomes de Freitas), celeiro de craques do futebol acreano na década de 1980. E se você ficar perguntando o motivo do apelido Maracutaia, segundo o jornalista Raimundo Fernandes, seria pelo fato de algumas competições terem iniciado, mas jamais finalizadas devido às “brigas” entre os dirigentes. Outra versão para o apelido, segundo ex-atleta César Limão, teria sido uma escolha pessoal do Sr. Osmar, isso quando o campinho ainda estava em construção.

Entre as grandes equipes que passaram pelo campinho da Funbesa irei citar algumas: Santa Cruz, Flamenguinho, São Paulo, Vasquinho, Sabenacre, Liga Juvenil Experimental, Unidos da Estação, Mascarenhas e Mercantil Araújo e Os Impossíveis. Todas elas marcaram época e eram recheadas de craques.


E, para finalizar, antes da pandemia, um grupo de ex-atletas do Maracutaia realizavam de um a dois encontros anuais para reencontrar velhos amigos. Fui uma vez, mas apenas para registrar a confraternização dos amigos das antigas, não para bater aquela bolinha.

Nesta edição, a coluna teve colaboração de imagens do professor Afrânio Moura, do meu irmão Rômulo Afonso e também do meu cunhado Magide Anute e ainda de Francisco Saraiva (Nem), filho do saudoso Sr. Osmar, todos atletas do Maracutaia.

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