Há alguns anos, um cacique da política foi à Santa Rosa do Purus tentar convencer um cacique indígena a apoiar à reeleição do seu candidato a prefeito.
Bom de lábia, o cacique urbano gastou toda a sua saliva destacando a importância de manter o aliado na prefeitura do município.
Depois muito ouvir, o sábio índio encerrou a prosa com o seguinte argumento:
– O senhor já viu um cachorro comer o seu próprio vômito? Depois que vomita, não há retorno. Esse seu candidato nos já vomitamos.
A passagem histórica na distante e praticamente isolada Santa Rosa do Purus pode servir para frear a insistência do governador Gladson Cameli em manter o nome da nora do deputado José Bestene (PP) à frente da Agência Reguladora do Acre (Ageac).
Por ampla maioria, os deputados rejeitaram o nome de Mayara Cristine Lima para comandar o órgão.
Mas, assim como o episódio relatado anteriormente, o governo insiste na indicação e pode sofrer nova derrota.
A nomeação da nora de Bestene não depende mais apenas da caneta de Gladson Cameli.
Ele perdeu essa prerrogativa.
Para que Mayara Cristine volte a comandar a Ageac é necessário que 13 deputados estaduais assinem documento chancelando a sua nomeação.
Pelo quadro hoje na Assembleia Legislativa, após terem “vomitado” a indicação, é pouco provável que os parlamentares queiram engolir novamente o que foi posto para fora.
Para piorar a situação, o governo está com um novo líder na casa, que tem a dura missão de recompor uma base esfacelada, faminta para viabilizar os seus próprios interesses.
Dificilmente a maioria irá se prestar a ser o cão de guarda para a recondução de uma parente de José Bestene.
Foto: Sérgio Vale.