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Instabilidade política: por que bolsa cai e dólar sobe

Depois de subir e bater 100 mil pontos no mês de março, o Ibovespa – índice de referência para a Bolsa de Valores brasileira – já enfrentou tantas altas e quedas quanto houve de intempéries no cenário político dos últimos dias. Com o dólar, não foi diferente: a instabilidade dominou os primeiros 3 meses do ano. Perto de se completar 100 dias da presidência de Jair Bolsonaro, e com o mercado tão sensível, a bolsa cair e o dólar subir à mercê de tudo o que acontece em Brasília se tornou corriqueiro.

Para entender porque esses fenômenos acontecem e quanto a alta e a queda do dólar e da bolsa têm mesmo a ver com o que ocorre na política, é preciso lembrar que o mercado financeiro é regido por confiança. “Os preços de ações e a cotação do dólar dependem de expectativas. E o que o mercado mais espera hoje é a reforma da Previdência”, diz William Eid — coordenador do Centro de Estudos de Finanças do Insper. Ele explica que à menor sensação de que o pacote proposto pelo governo corre o risco de não ser aprovado, os investidores desconfiam do crescimento da economia brasileira e deixam de colocar recursos em ações de empresas locais.

Foi exatamente o que aconteceu na última quarta-feira, 3, quando o ministro da Economia Paulo Guedes enfrentou uma artilharia da oposição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, onde estava para defender a Proposta de Emenda à Constituição para a reforma da Previdência. A bolsa perdeu 1,5 mil pontos e fechou em queda de 0,94%, com o dólar subindo a R$ 3,87. A sessão terminou em confusão.

O resultado da falta de confiança, gera maior oferta de venda de ações brasileiras e menor procura por elas. Dessa maneira, os preços diminuem e o Ibovespa, que reúne as ações das principais empresas do Brasil, cai. Uma vez que isso acontece, pode-se observar a saída de moeda estrangeira da economia, já que parte dos investidores são de fora do país. Se há menos dinheiro estrangeiro por aqui, o real se desvaloriza em relação ao dólar, fazendo o câmbio subir. Além disso, na busca por mais segurança, as apostas se direcionam para a compra da moeda americana, o que pressiona o dólar para preços ainda mais altos. Porém, apesar de parecer lógica, essa não é a única explicação possível para o cenário de bolsa em baixa e dólar em alta.

O professor Eid lembra que economias de democracias mais sólidas que a do Brasil têm menor instabilidade em relação à repercussão noticiário político na Bolsa de Valores. “As instituições são mais sólidas em outros países. Aqui, cada um que entra no poder muda tudo, questiona até a história. Por isso, qualquer escorregão tem impacto na economia”, diz. Ele ainda ressalta que quando se trata do dólar, especificamente, há muitos outros fatores que influenciam a equação.

O economista-chefe da Guide Investimentos, Victor Cândido, aponta que a cotação do dólar depende muito de fatores externos e que, nesse momento, os investidores estrangeiros se mostram preocupados com a desaceleração da economia mundial. Nesse cenário, o movimento natural é a compra de moedas que representam mais segurança, no caso, o dólar. O efeito dessa movimentação é uma apreciação da moeda: ela passa a valer mais. “Cerca de 80% do movimento diário do dólar vem de fora”, diz o economista.

E o que isso quer dizer no dia-a-dia

Não há motivo para pânico. Os especialistas indicam que os efeitos de oscilação da bolsa e da instabilidade do dólar não se refletem imediatamente no dia-a-dia da população que não investe em ações ou fundos de investimentos. No longo prazo, caso as quedas no Ibovespa se perpetuem e, com a saída de investimentos, somada à situação internacional, o dólar se estabilize em um novo patamar mais alto que o anterior, aí sim haveria uma pressão percebida na inflação do país. “As altas do dólar influenciam o preço de produtos importados, ou que tenham componentes importados, mas com a ociosidade da indústria brasileira, esses aumentos pontuais acabam não sendo repassados ao consumidor tão rapidamente”, diz Victor Cândido, da Guide Investimentos.

Já para quem começou a evoluir nas finanças e deixou a poupança para se aventurar em outros investimentos de maior volatilidade, como a renda variável, o clima é mais hostil. “Esse cenário é péssimo para fundos multimercados. Se eu posso dar um conselho é: escolha muito bem o seu gestor”, diz o professor do Insper William Eid. Ele adverte os investidores a avaliarem o desempenho dos fundos nos últimos 5 meses antes de colocar dinheiro em um deles.

Renda fixa x renda variável

Basicamente, há dois tipos de produtos de investimento no mercado financeiro. Quando você aloca capital na renda fixa, empresta seu dinheiro a um terceiro, que promete devolvê-lo com uma taxa de juros no futuro. O investimento pode ter rentabilidade prefixada, ou seja, quando o investidor faz a alocação, ele já sabe exatamente quanto vai ser pago a ele. Pode também ser pós-fixado, o que significa que o retorno pago será indexado a alguma taxa da economia, como o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) ou à Selic.

Já na renda variável, o investidor torna-se um ‘sócio’ ao adquirir participações em uma empresa. Isso significa que seu retorno financeiro vai depender do resultado daquela companhia que ele comprou ações. A rentabilidade da aplicação não pode ser determinada no momento do aporte. Há mais incerteza neste tipo de produto, que pode gerar ganhos ou prejuízos maiores para o investidor.

A participação do investidor nestes produtos pode ser dar pela aquisição direta, como a compra de ações na B3, ou via fundos de investimento, em que um profissional faz a gestão dos recursos e normalmente cobra taxas de administração ou de performance pelo serviço.

Estadão

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