“Faltam equipamentos e medicamentos nos hospitais, resultando em mortes de pacientes”.
A frase é da nota dura que o Sindicato dos Médicos emitiu, no mês passado, para responder ao ataque que o governador fez à categoria.
Desde então, as denúncias de inexistência de medicamentos, equipamentos e de pessoal nas unidades de saúde do Estado são constantes.
São diárias.
A crise é visível e sentida por quem necessita de atendimento.
Mesmo assim, o governador e o secretário de Saúde, Alysson Bestene, parecem anestesiados.
E querem anestesiar a população com discurso que não condiz com a realidade.
Desnecessário ser especialista para comprovar que diagnóstico é grave.
Que necessita de intervenção para além das manchetes de sites e jornais poucos comprometidos com a verdade.
Se não vejamos.
Ha cerca de duas semanas, o governador Cameli anunciou que o governo estaria adquirindo R$ 386 milhões em medicamentos.
Não disse como seria feita a aquisição e nem de onde viria o dinheiro para comprar um estoque capaz de abastecer o sistema por três anos.
Mais modesto, Alysson Bestene baixou o valor para R$ 2 milhões.
Essa dança de números é uma loucura.
Enquanto os seus superiores falam em investimentos, o gerente do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos da Secretaria de Saúde, Marcos Aurélio de Nogueira da Silva, vem dizer que foram economizados mais de R$ 22 milhões em materiais hospitalares.
Vangloria-se de ter recebido diversas doações.
Supondo que a declaração seja verdade, a que preço foi feita essa economia?
Quantas vidas foram perdidas para o governo economizar.
Até dezembro do ano passado, o Acre investia até 18% do seu orçamento na Saúde pública, quando a Constituição determina 12%.
Éramos o terceiro estado que mais fazia investimentos no setor.
Mesmo assim os investimentos nunca foram suficientes. E nem serão.
Cerca de 95% da população acreana recorre ao Sistema Único de Saúde para fazer tratamento.
Esse percentual salta para 99% quando o caso é de alta complexidade.
Economizar não é o melhor remédio.
Em vez de economia, o que há é a certeza de que o Estado deixou de suprir a rede estadual de Saúde com medicamentos e equipamentos com valores que superam os R$ 22 milhões.
O atendimento, que está péssimo, pode piorar.
Não há o básico. Não há busca efetiva de soluções.
O Secretário de Saúde pensa nos remédios para idosos sendo entregues pelos Correios, enquanto nos pronto-atendimentos as pessoas morrem por falta de antibiótico.
A escala de médicos, aparentemente, está cheia, mas os profissionais sabem que está vazia.
Existiu, no último domingo, um único médico para dois setores essenciais no pronto-socorro: unidade de dor torácica e sala de emergência clínica.
Imagine o médico tendo que escolher entre salvar um infartado e salvar uma pessoa com problemas respiratórios graves.
Assim, economizando em tudo, medicamentos, gazes, seringas, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e o pagamento dos plantões fica fácil arrotar economia
O problema é que população mais necessitada está pagando em dobro com o sofrimento e a perda dos seus entes queridos.