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ESQUEMÃO AZUL: Gladson Cameli contrata escritório de advocacia que cobra até R$ 8 milhões para fazer a sua defesa no STJ

 Escritório defendeu ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e sócio da Precisa Medicamentos

Por Leonildo Rosas Fábio Pontes

Acusado pela Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) de ser o chefe de uma organização criminosa (Orcrim) montada no seio do Palácio Rio Branco, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), decidiu não economizar para garantir a sua defesa junto ao Superior Tribunal de Justiça (STF). Temendo o que pode vir no futuro, tratou de contratar uma das bancas de advogados mais caras do Brasil, a Figueiredo e Velloso.

Gladson Cameli e a sua esposa, Ana Paula, tiveram os sigilos bancários, fiscais e telefônicos quebrados por ordem da ministra Nancy Andrighi atendendo a pedidos feitos pela Polícia Federal para poder deflagrar a operação Ptolomeu, que apura a atuação de políticos e empresários para desviar verbas federais do SUS e do Fundeb.

Na sua decisão, a ministra verificou que há indícios de materialidade e autoria a envolver o governador acreano, a primeira-dama, a GGC Holding Ltda e a Marmud Cameli & Cia. Ltda. Os dois primeiros seriam os beneficiários últimos de transações que alegadamente visaram desfalcar o patrimônio público.

A ministra também deferiu o sequestro e indisponibilidade dos veículos de dois carros carros da família Cameli: um Toyota Corolla e uma BMW X4. A ministra do STJ ainda bloqueou os valores que se encontravam nas contas de Gladson Cameli, da primeira-dama Ana Paula, da GGC Holding Ltda e da Marmud Cameli & Cia. Ltda. Na conta de cada houve o bloqueio de valores até R$ 1,7 milhão.

Diante do cerco judicial, que envolve o núcleo da família Cameli, economizar na defesa seria correr o risco de pagar um preço mais caro no futuro.

Comandada pelos advogados Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, a banca ganhou fama durante a Operação Lava Jato, quando atuou nas defesas de acusados, com destaque para o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. A sociedade acreana só soube ontem à noite que a dupla defende o governador no STJ após a divulgação de uma nota simplória sobre as acusações que são impostas a Gladson Cameli pela PF, mas sem fazer a desconstrução de nenhuma delas.

Reportagem publicada pela revista Veja, em novembro de 2017, coloca os advogados de Cameli no rol dos supercriminalistas mais caros do país e que cresceram profissionalmente durante os julgamentos desencadeados pela operação Lava Jato. Conforme a Veja, os custos honorários da dupla variam entre R$ 5 milhões e R$ 8 milhões por causa.

Entre os clientes seletos dos advogados está o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Ele foi condenado, em março de 2017, pelo então juiz Sérgio Moro a 15 anos e 4 meses de prisão por corrupção passiva, evasão fraudulenta de divisas e lavagem de dinheiro, Cunha foi preso preventivamente pouco mais de um ano antes, em outubro de 2016. Ele recorreu ao TRF4, que manteve a sentença mas reduziu a pena para 14 anos.

Mais recentemente, o escritório que agora defende Gladson Cameli atuou na defesa do sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano, acusado de ser a ponte entre o governo Jair Bolsonaro (PL) e o laboratório indiano que produz a vacina Covaxin.

Contrariando os trâmites seguidos pelos demais imunizantes, que foram negociados diretamente com seus fabricantes, a compra da Covaxin pelo governo Bolsonaro foi intermediada pela Precisa Medicamentos. A Covaxin foi a vacina mais cara negociada pelo Ministério da Saúde, com denúncias de suposto pagamento de propinas. A dose custou R$ 80,70 a unidade, valor quatro vezes maior que a vacina da Fiocruz, a AstraZeneca.

Na época, o então chefe de importação do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Fernandes Miranda, reforçou as suspeitas de atos ilegais. Luis Ricardo, que é irmão do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), prestou depoimento à procuradora Luciana Loureiro Oliveira. O servidor era o responsável pela execução dos processos de importação. Os irmão Miranda prestaram depoimento à CPI da Covid do Senado Federal.

Além disso, a precisa é acusada de ter feito uma venda de R$ 20 milhões para o Ministério da Saúde no governo Michel Temer e nunca ter entregue os medicamentos. O ministério era chefiado por Ricardo Barros, do PP do Paraná, que depois assumiu o cargo de líder do governo Bolsonaro na Câmara. O deputado do progressistas também é suspeito de participar das negociações da Precisa Medicamentos com o ministério da Saúde para a compra da Covaxin. Após a revelação da denúncia, o governo suspendeu a aquisição.

Desde dezembro do ano passado, o Portal do Rosas e o Blog do Fábio Pontes vêm publicando uma série de reportagem sobre a Operação Ptolomeu, deflagrada pela Polícia Federal, que tem Gladson Cameli como alvo principal.

Veja trechos da reportagem publicada na Veja sobre os advogados contratados por Gladson Cameli

“Aos 34 anos, Ticiano Figueiredo é um dos novos ricos. Em sua carteira de clientes figuram nomes como o ex-­deputado Eduardo Cunha e os empresários Joesley e Wesley Batista. Pouco mais de dez anos atrás, Figueiredo alternava o curso de direito na Universidade de Brasília com o trabalho de promoter de festas na capital federal.

Morava em um apartamento de paredes finas no bairro de classe média do Sudoeste, em Brasília, e tinha um Ford Fiesta na garagem. Hoje, vive em uma casa de 5 000 metros quadrados no Lago Sul, dirige um SUV da montadora Jaguar e comemora vitórias profissionais com brindes de Château Pétrus (era dia claro ainda quando, numa quinta-feira de outubro, ele e seu sócio abriram uma garrafa do tinto bordelês, safra 1973, comprado em leilão por 9 000 reais, para comemorar a aceitação do pedido de desbloqueio na Justiça de 60 milhões de reais dos irmãos Batista).

Para Figueiredo, o destino começou a mudar em 2009, quando ele ganhou sua primeira grande causa. Conseguiu inocentar um canadense de 70 anos em viagem à Amazônia de uma acusação de tráfico de cocaína. Com os 200 000 dólares que recebeu à época mais o produto da venda de um apartamento que herdou de uma tia, comprou um conjunto de salas comerciais no centro de Brasília e pôs o seu nome na porta.

Egresso do escritório do criminalista Eduardo de Vilhena Toledo, ele diz ter percebido cedo que só enriqueceria se criasse a própria grife. Nesse período, no entanto, as causas mais caras que caíam em seu colo não lhe rendiam mais que 30 000 reais. Sua trajetória e saldo bancário começaram a empinar quando Figueiredo se associou a um velho amigo de faculdade, Pedro Ivo Velloso, então um dos mais promissores profissionais da banca do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay — por sua vez, tido como o maior expoente da área criminal em Brasília, pois já defendeu dois ex-presidentes da República, um vice, quarenta governadores, vinte ministros de três governos e 56 parlamentares, sendo 21 senadores.

Se o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, morto em 2014, era conhecido como o “príncipe dos advogados”, Kakay poderia ser definido como o xeique da categoria. Além da dramaticidade de suas sustentações orais, o gosto pelas festas e pela boa vida sempre foram sua marca.

Em tempos pré-Lava-Jato, as comemorações de fim de ano que promovia em sua casa eram capazes de unir todas as esferas da República e grandes empresários em torno de hectolitros de champanhe Taittinger. Hoje, Kakay puxou o freio de mão: “Gastar dinheiro no Brasil passou a ser crime”, disse em setembro, na celebração de seu aniversário de 60 anos, comemorado em Portugal com festa modesta para os seus padrões de detentor de um patrimônio de nove dígitos. Decano dos criminalistas de Brasília, Kakay fez de seu escritório uma espécie de incubadora de talentos e costuma indicar para advogados de sua confiança as causas que ele não tem tempo ou interesse de pegar.

Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso reconhecem que foi dele o pontapé fundamental para catapultar o escritório da dupla. Diz Velloso: “Boa parte do nosso sucesso devemos às indicações do Kakay”.

Mas, mesmo cobrando até 8 milhões de reais por causa hoje, a dupla Figueiredo e Velloso não descansa sobre os louros. Enquanto criminalistas tradicionais da Lava-Jato, como Nabor Bulhões, Theo Dias e Alberto Toron, preferem manter-se encastelados em seus gabinetes à espera dos clientes que vêm bater à sua porta, Figueiredo, sobretudo, não tem pruridos em prospectar clientes, estejam eles onde estiverem — o que inclui a Papuda e congêneres.

A captura do caso de Eduardo Cunha, por exemplo, encarcerado há um ano, envolveu insistentes pedidos a amigos para que indicassem seus serviços ao ex-deputado. Outro hábito do advogado e seu sócio consiste em vasculhar sistematicamente os processos que dão entrada no STJ. O objetivo é encontrar lá potenciais clientes antes que eles encontrem a concorrência.

Tamanha determinação fez a dupla amealhar não menos que 30 milhões de reais desde que começou a atender clientes da Lava-Jato. Como seus colegas de profissão e fortuna, eles não revelam o tamanho do patrimônio conquistado — apenas afirmam que todos os rendimentos percorreram caminhos legais até chegar ao seu bolso”.

Veja o site do escritório aqui.

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