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Casos de Covid-19 em Tarauacá mobilizam Yawanawá a bloquearem acesso as aldeias

“Perder um velho da nossa aldeia é como queimar um arquivo da biblioteca”, afirma cacique Biraci Brasil do povo Yawanawá.
Com dois casos confirmados de COVID 19 no município de Tarauacá neste final de semana, o cacique Biraci Brasil juntamente com os moradores da Aldeia Nova Esperança e Aldeia Sagrada decidiram ampliar fechar a passagem do rio que dá acesso a essas duas comunidades.

“Nossa família reuniu todos para fechar o rio. Um momento triste, é lamentável mas é questão de sobrevivência”, disse a liderança.

Desde o início, o povo Yawanawá prontamente compreendeu a necessidade de isolamento. No entanto, são nove comunidades na Terra Indígena Yawanawá e ainda vinha ocorrendo a circulação de pessoas para o município de Tarauacá, onde vivem algumas famílias e os indígenas dependem para compra de mercadorias e retirada de benefícios sociais, aposentadoria e pagamentos de professores.

A decisão de restringir ainda mais o acesso às duas aldeias mais distantes surgiu da preocupação especialmente com a vulnerabilidade dos velhos, crianças e pessoas com problemas crônicos de saúde.
As notícias de que terras indígenas vêm sendo invadidas em todo país durante a pandemia, alertou os Yawanawá.

“Estamos vivendo num país em que nossos direitos estão sendo tirado pelas autoridades púbicas de nosso país, especialmente pelo governo federal. Muitas terras estão sendo invadidas por madeireiros fazendeiros, mineração, e como não bastasse só isso, agora essa pandemia”, disse Biraci.

O líder, em decisão com os demais moradores, entendeu que a única forma de se proteger era ampliando ainda mais as restrições de circulação.
“Não temos sistema de saúde que garante o cuidado e o tratamento. Por isso a decisão de fechar. É a única forma que temos de nos proteger”

Em vídeo gravado, Biraci Brasil, ressalta a preocupação com a saúde dos mais velhos. Povo yawanawá realiza, desde os anos 80, um processo de retomada e revalorização cultural, que após décadas de evangelismo missionário, ameaçou o desaparecimento de aspectos de sua cultura. Por essa razão, a vida dos mais velhos recebe um olhar especial pelas lideranças, pois é através deles que são resgatados e relembrados os muitos aspectos de sua rica cultura. Para os Yawanawá em especial, a perda de uma pessoa idosa é muito lamentada por representar também, perda de conhecimento.

“Perder um velho da nossa aldeia é como queimar um arquivo da nossa cultura, como tocar fogo no museu ou na biblioteca. Por isso temos esse zelo com nosso conhecimento nossa sabedoria, preocupado com nossos velhos tomamos essa decisão dura e difícil”

Nos últimos anos, os líderes espirituais Yawanawá têm percorrido diferentes lugares do mundo numa experiência de intercâmbio de saberes e formação de uma aliança da espiritualidade pelo planeta juntamente com outros povos. Seus principais líderes homens e mulheres têm se consolidado como guias espirituais de centenas de pessoas fora das aldeias, no Brasil e no Mundo. Do alto da Floresta, mesmo isolados, os Yawanawá, não se esquecem do restante da humanidade que os abraçou.

“É lamentável, mas quero compartilhar com nossos irmãos do mundo estamos daqui emanando nossa energia de esperança aos nossos irmãos que estão vivendo um novo tempo, um tempo de uma reciclagem humana, vendo surgir um novo conceito de humanidade e nós estamos aqui querendo ver esse novo dia amanhecer, um tempo de esperança.”

Por Leandro Altheman – Juruá em Tempo

Fotos: Aldeia Nova Esperança – Biraci Jr

Fonte: Juruá em Tempo

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