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‘Amazônia está queimando e o presidente quer pedido de perdão? É vergonhoso’, diz primo de Chico Mendes

Aos 74 anos de idade, Raimundo Mendes, conhecido como “Raimundão”, já viu muita coisa acontecer em Xapuri, terra onde nasceu e morreu o seu primo famoso, o líder seringalista Chico Mendes . Com uma voz grave, mas fraca, ele comenta com amigos que, em alguns momentos, não acredita no que está acontecendo na floresta que ele e o primo tanto tentaram defender. 

Diante do aumento nas taxas de desmatamento e da explosão nos números de queimadas , Raimundão mostra cansaço: “A gente lutou muito para defender isso aqui, e, agora, com esses novos governos, todo mundo está achando que está liberado destruir. É muito triste”, diz. 

Na ultima terça-feira, porém, o que lhe tirou do sério foi uma notícia que chegou de Brasília. Ele soube que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) exigiu que o presidente francês, Emmanuel Macron, lhe pedisse perdão por ofensas como condição para que o Brasil aceitasse ajuda do G7 para conter as queimadas na Amazônia. 

— Amazônia está queimando e o presidente quer pedido de perdão? Isso é vergonhoso — disse. 

Em uma breve entrevista, Raimundão fala sobre o que está fazendo a Reserva Extrativista Chico Mendes ser a campeã de queimadas no Acre , sobre a reação de Bolsonaro à oferta de ajuda do G7 e sobre o seu medo em relação aos efeitos na Amazônia da flexibilização da compra e porte de armas decretada por Bolsonaro. 

Na sua avaliação, por que a Resex Chico Mendes está registrando tantos focos de incêndio?

O que eu acho é que as pessoas estão sendo seduzidas pelo dinheiro fácil do gado. As pessoas estão se esquecendo dos motivos que fizeram a gente lutar tanto por essa reserva. 

Então, na sua opinião, os governos não têm responsabilidade sobre o que está acontecendo?

Claro que têm. Hoje, a gente tem no governo federal e no governo estadual duas pessoas que apoiam abertamente o agronegócio. O governador do Acre (Gladson Cameli, do PP) , por exemplo, já disse que o gado é uma das vocações do estado. Os fazendeiros, agora, se sentem livres para assediar os extrativistas. 

Como o senhor se sente ao ver a reserva pela qual Chico Mendes lutou ter tanto desmatamento e tantos focos de incêndio?

Isso é algo que muito me preocupa e preocupa a todos aqueles que, junto com Chico Mendes, lutaram para que se criasse uma reserva e a gente continuasse tendo nossas terras protegidas. E hoje são poucos os que estamos tendo esse zelo e essa responsabilidade.

A Amazônia está repleta de focos de incêndio. O G7 acenou com a possibilidade de enviar ajuda financeira, mas o presidente Jair Bolsonaro disse que só aceitaria o dinheiro se o presidente da França, Emmanuel Macron, pedisse desculpas por ofensas supostamente proferidas por ele contra Bolsonaro. Para o senhor que está na floresta, como classifica essa postura do presidente?

A Amazônia está queimando, e o presidente quer pedido de perdão? Isso é vergonhoso. Ele quer chantagear todo mundo. Quer humilhar as pessoas. Os cidadãos e cidadãs de bem que têm consciência do que estão fazendo não podem se abaixar. Tem que ir para cima. Isso é um absurdo.

O senhor se diz preocupado com os decretos do presidente Bolsonaro sobre a posse de armas. Por quê?

Porque isso é um absurdo. Veja a nossa situação. A gente aqui na floresta, seringueiro, posseiro… a gente vive em áreas que são disputadas por grileiros, fazendeiros. Aí o presidente assina um decreto que possibilita o fazendeiro poder usar a arma dele na área toda da área que está em disputa. Como é que a gente fica? Isso vai criar um caos na Amazônia. Um verdadeiro caos. 

Leandro Prazeres, enviado especial a Xapuri (AC)

UOL

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