HomeBlog do Fábio PontesA nossa teoria da conspiração

A nossa teoria da conspiração

Governador do Acre pode ter se encontrado com Flávio Bolsonaro para tirar Polícia Federal de seu calcanhar

Além do tremendo barraco protagonizado pela família cristã, conservadora e tradicional Bittar no plenário da Câmara Municipal de Rio Branco, o casal bolsonarista Márcia e Márcio Bittar ganharam as manchetes da imprensa acreana essa semana por articular o encontro entre o encrencado e investigado governador do Acre, Gladson Cameli (PP), com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), também na mesma situação policial por conta de suas rachadinhas. 


Pouco se falou sobre este encontro, que muito tem a dizer, mas ficou oculto. Pelas notícias oficiais, o encontro foi para consagrar o apoio de Cameli à candidatura de Márcia Bittar ao Senado. (Sim, marido e esposa querem transformar o Senado da República em extensão domiciliar, tudo pago pelo contribuinte).

Todavia, o que muita gente finge não saber é que o encontro entre os investigados Gladson Cameli e Flávio Bolsonaro pode ter outro motivo. Encurralado pela superintendência da Polícia Federal no Acre, que o define como o suposto chefe de uma organização criminosa que teria surrupiado quase R$ 1 bilhão dos cofres públicos, o governador do PP está desesperado em busca de uma salvação política, já que do ponto de vista jurídico é quase insustentável.

As provas contra Gladson Cameli são robustas, baseadas em relatórios de inteligência do Coaf. Cameli é flagrado movimentando alguns milhões de reais em dinheiro vivo sem justificar a origem. Deu de presente uma BMW para a esposa, cujo dinheiro, segundo a PF, tem origem em esquema de corrupção – uma lavagem de capitais. O patrimônio do governador evoluiu de forma estratosférica desde que assumiu o Palácio Rio Branco – e ele botou culpa na inflação.

Enfim, a ficha policial do governador é de causar inveja a qualquer batedor de carteiras. Por mais que esteja gastando alguns milhões de reais com os mais caros advogados de Brasília, até aqui, ao que tudo indica, a atuação da defesa parece não surtir efeitos. Nestes últimos dois meses, os investigadores federais ficaram debruçados sobre os sigilos bancário e fiscal do governador, cuja quebra foi autorizada pela ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Portanto, se as provas já eram bem irredutíveis, tendem a ficar ainda mais fortes, o que pode levar a Polícia Federal a pedir o afastamento de Gladson Cameli da função de governador do Acre, e até mesmo sua prisão. Se a ministra acatará, não sabemos.

Vendo a ele e toda a sua família imprensados pelas investigações, Gladson Cameli foi bater à porta daquele que é apontado como o membro da família Bolsonaro com maior influência sobre a Polícia Federal: o senador das rachadinhas. Desde que assumiu o governo, Jair Bolsonaro trabalha para transformar a PF em sua polícia política para perseguir adversários e proteger seus encrencados filhos. Manda substituir delegados que não atendam a seus caprichos, entre outras interferências.

E o grande responsável por essa eventual ingerência política é o filhote Flávio, a quem o governador Gladson Cameli teria ido pedir súplicas. Ainda em dezembro, já circulava no meio político acreano a notícia de que Cameli iria recorrer ao senador do Republicanos para salvar a sua e a pele da família, com a intermediação de Márcio Bittar. De ex-comunista a bolsonarista fiel, Bittar aparenta ter um bom trânsito com o clã Bolsonaro.

Meses atrás, a especulação era a de que Bittar interviria por Gladson Cameli junto à família presidencial para tirar a Polícia Federal de seu calcanhar. Para isso, Cameli iria desistir da reeleição para que Márcio Bittar fosse candidato a governador. Porém, ao que tudo indica, o acordão para soterrar a operação Ptolomeu passa por Gladson Cameli declarar a possível atual esposa de Bittar, Márcia Bittar, como sua candidata oficial ao Senado, colocando a máquina estadual à disposição de uma candidata inexpressiva.

Fragilizado politicamente, Cameli sabe que abraçar a candidatura de Márcia Bittar é um suicídio eleitoral, pois consoladaria, ainda mais, a rachadura na sua base política. Outros nomes bem mais expressivos eleitoralmente querem se apresentar como os candidatos oficiais do Palácio Rio Branco ao Senado. Se bem que, com um governador investigado por crime de corrupção, não se sabe se isso é vantajoso. Pelo sim, pelo não, Gladson Cameli tem uma situação bastante complicada.

Por mais que Flávio Bolsonaro acione seus botões junto à alta cúpula da Polícia Federal para sepultar a operação Ptolomeu, isso em si seria um grande escândalo, revelando que o governador acreano tem, sim, muitos podres a esconder, e que apenas a ingerência política dentro da PF será capaz de salvá-lo do afastamento do cargo e até de uma prisão.

Do ponto de vista eleitoral e político, nada justifica Gladson Cameli abandonar candidaturas muito mais potenciais ao Senado, como as dos deputados federais Alan Rick e Jéssica Sales, para chamar de sua a candidatura de Márcia Bittar, cujo único interesse é atender a caprichos pessoais. Apenas uma possível intervenção gestada pelos Bittar junto ao bolsonarismo para sufocar as investigações da PF justifica este tiro no pé eleitoral de Cameli. Na situação em que ele se encontra, vale tudo até dois tiros em cada um dos pés.

Agora é acompanhar o desenrolar da operação Ptolomeu, que na semana passada completou dois meses. Se nada acontecer daqui pra frente, é porque a superintendência acreana já recebeu ordens de Brasília para colocar tudo na gaveta. Ou pode ser que eu esteja apenas na minha teoria da conspiração, e na semana passada os federais retornem às ruas de Rio Branco e Manaus.

Vamos saber se o encontro entre Gladson Cameli e Flávio Bolsonaro foi proveitoso (para o governador).

Veja mais aqui.

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

vale a leitura